PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA TRIBUTÁRIA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL - Art.150, § 5º - A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

NÃO É POR 0,01 DE REAL


ZERO HORA 14 de fevereiro de 2014 | N° 17704

ARTIGOS

Não é por R$ 0,01, 

por Anamara Bolsson*



A astuciosa tática de vendas que determina preços fracionados, sempre aquém um ou dois centavos, na tentativa de seduzir o consumidor e convencê-lo de que o valor a pagar é menor, começa a produzir outra consequência. Se até então, para pagar em espécie qualquer produto no valor de R$ 1,99, R$ 5,99 ou ainda R$ 4,43, faltava o troco ao consumidor porque a Casa da Moeda não dá conta ou porque os usuários desprezam moedas de R$ 0,01 e as jogam fora agora se avançou mais uma etapa. Para baixo, é claro. Despesas pagas com cartão de crédito também são arredondadas. Para cima, é claro.

Tenho enfrentado rotineiramente o olhar de censura de caixas de lojas, de cafeterias elegantes, de grandes redes populares. Ou ainda a pergunta que tenta constranger, se não fosse um direito:

– Mas a senhora quer um centavo?

Sim, quero e tenho brigado por isso. Porque quem tem o poder de precificar seus produtos, levando em conta seus custos e o lucro que deseja obter, também tem a obrigação de pensar em como operacionalizar e viabilizar o ato da compra e em como atender e respeitar o consumidor. Negócio bom é bom e justo para os dois lados. É clichê e ainda há quem ignore.

Seria irritante, não fosse desrespeitoso sonegar qualquer centavo. Não é o valor de R$ 0,01. É direito que se tem como consumidor. A alegação, contudo, é sempre a mesma. Falta troco nesta pátria de chuteiras que vai encarar em poucos meses turistas estrangeiros acostumados sistematicamente a dar até o último centavo com uma honestidade que torna desnecessário conferir qualquer valor recebido como troco.

Para evitar um discurso, ao qual inúmeras vezes não tenho me furtado, optei, então, por pagar minha despesa com cartão de crédito. E o que era pra resolver a questão tomou outro rumo. Agora, também no cartão de crédito se arredonda a conta, e o que era R$ 14,48, já com os 10% de gorjeta incluída, passa a ser registrado R$ 14,50. O que custou R$ 21,59 passa a ser cobrado R$ 21,60. Ao interpelar a responsável pela caixa de uma dessas cafeterias bem equipadas, com pessoal razoavelmente bem treinado e café de qualidade média, em um grande shopping, ouvi que os 10% foram arredondados.

Se não é má-fé e falta de respeito com o consumidor, quero entender o cálculo desses meticulosos empresários, a estratégia de vendas dos espertos gerentes de marketing. Porque, enquanto arredondam as contas e desrespeitam com alguns míseros centavos a conta do cidadão, começam a minar o próprio negócio com uma ainda pequena infiltração de insatisfação e credibilidade. E tempos depois celebram contratos milionários com consultores e realizam pesquisas para tentar descobrir por que os negócios vão mal.

É simples essa conta. Olhem com mais respeito e seriedade os consumidores, respeitem seus direitos. A conta vai fechar sempre, redondinha, exata. A isso também se chama responsabilidade social, com isso se torna também um negócio sustentável. Eu, de minha parte, vou continuar a briga. E não é por R$ 0,01.

*JORNALISTA

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