EDITORIAL
A inflação está assustando. Até mesmo as refeições a quilo estão mais caras. Certo, o governo pode festejar os bons números da população empregada. A taxa de desemprego em abril continuou rondando os 5,6%, mantendo-se no recorde de baixa. Mas as contas externas de abril mantiveram o sinal amarelo no Banco Central. Economistas de grandes bancos apontam que esse indicador mostra que o Brasil continua gastando mais dólares do que deveria.
Mantém-se um forte aumento de gastos com viagens internacionais, e registramos outro mês de déficit da balança comercial em abril. Quanto ao Investimento Estrangeiro Direto (IED), ocorreu entrada de US$ 5 bilhões, uma melhora. Porém, após o auge de preços das commodities atingido em 2011, as cotações neste ano deverão continuar a trajetória de queda iniciada em 2012. O preço médio da tonelada de minério de ferro exportada em 2011 atingiu US$ 126 e, neste ano, até maio, recuou para US$ 107. O quadro se repete para soja, café, açúcar, celulose, carne bovina e petróleo. Em agosto, a soja foi embarcada por US$ 700 a tonelada. O ano começou com embarques a US$ 535, e hoje está em US$ 520. Na Bolsa de Chicago, a tonelada é cotada a US$ 470 e pode recuar para US$ 400.
A queda nos preços internacionais das matérias-primas agrícolas, metálicas e do petróleo deve tirar cerca de US$ 20 bilhões das exportações brasileiras entre 2011 e 2013. A venda de produtos básicos responde por 70% das exportações brasileiras. Praticamente todas as matérias-primas agrícolas e minerais estão com os preços em queda no mercado internacional, e por duas razões: o baixo crescimento dos países desenvolvidos e as incertezas sobre o desempenho da China, o grande comprador desses produtos. Entre 2011, ano de pico das cotações das commodities, e abril deste ano, os preços médios em dólar no mercado de commodities agrícolas, minerais e energéticas acumularam queda de quase 12%, segundo o índice do Commodity Research Bureau, referência mundial.
A inflação teve um refluxo, pequeno, mas sempre um recuo. A meta perseguida pelo Banco Central é de 4,5%, assim mesmo uma das mais altas dos países da América Latina.
As projeções dos especialistas – não necessariamente dos “pessimistas de plantão”, segundo a presidente Dilma Rousseff – apontam para alta de 5,8% para este ano e de 6% para o ano que vem. O problema é que ainda temos uma economia muito indexada, salário-mínimo sendo reajustado acima da inflação e alta taxa de emprego. Para esfriar esse estímulo, é preciso controlar a demanda por consumo. Esse apetite parece estar diminuindo por causa do excesso de endividamento da população e do encarecimento dos produtos provocado pela inflação até agora.
O Fed – o banco central dos Estados Unidos – mantém sua estratégia de inundar a economia com dólares, a quantia de US$ 85 bilhões por mês. No total, foram mais de US$ 2,4 trilhões desde 2008. Não é um movimento feito pelo governo para ajudar o nosso exportador, mas, sim, um movimento de fora para dentro, mais difícil de administrar e com efeitos mais desconhecidos. Então, se a Selic subir para 7,75%, não será surpresa. Não para o mercado.