VEJA ECONOMIA, 26/09/2013 às 15:49
Ou: Ontem a euforia, hoje a tática do avestruz
Fonte: The Economist
A revista britânica The Economist, que sempre foi ignorada pela esquerda brasileira por ter uma linha mais liberal, caiu no radar da turma quando, em 2009, colocou o Cristo Redentor na capa decolando. Os petistas ficaram eufóricos, usaram a matéria contra os críticos liberais do governo, e nem se deram ao trabalho de ler o que ia dentro.
Os alertas foram ignorados, e a revista mostrou-se otimista demais com o governo. A arrogância (“hubris”) apontada pela revista como principal risco virou realidade. O governo se mostrou intervencionista demais, fez lambança demais, e a economia agora patina, com inflação alta. Vários outros países emergentes crescem mais, com menos inflação. A euforia virou apatia ou aversão.
Tanto que a presidente Dilma teve de engolir parte da empáfia e mendigar atenção no ícone do capitalismo americano, o banco Goldman Sachs. Foi passar o chapéu, mas o tiro saiu pela culatra: quem precisa frisar tanto que honra contratos, senão alguém que… não tem honrado contratos? Se sua esposa repetir muito que lhe é fiel, prezado leitor, cuidado, atenção redobrada: espera-se que a esposa fiel não precise reafirmar tanto assim sua fidelidade. Já a adúltera…
Voltemos à The Economist. A matéria de capa é forte, e logo na largada diz: “Uma economia estagnada, um estado inchado e protestos em massa significam que Dilma Rousseff deve mudar o rumo”. A acusação é que o governo fez muito pouco para reformar o estado, tendo apenas aproveitado as boas ondas externas. Especialmente no que diz respeito ao modelo tributário, um verdadeiro manicômio que pesa sobre as empresas.
As prioridades do governo também são apontadas como totalmente equivocadas. Gasta demais, investe de menos. O modelo previdenciário é custoso demais para um pais ainda jovem. Acaba gastando com aposentadorias o mesmo que as social-democracias europeias, cuja participação de idosos é três vezes maior no total da população.
Já os investimentos em infraestrutura são tão pequenos como os biquínis das brasileiras, diz a revista. Investe apenas 1,5% do PIB, contra a média global de 3,8%. Isso mesmo com um estoque de capital de infraestrutura bem menor. O resultado é um custo de logística absurdo para as empresas.
A revista reconhece que não são problemas novos, mas lembra que o atual governo não só foi incapaz de mexer uma palha para melhorá-los, como aumentou muito as intervenções na economia, espantando investidores. A reputação macroeconômica também foi para o saco pois o governo resolveu reduzir as taxas de juros artificialmente, na marra, e agora está tendo que aumentá-las para combater a inflação.
A contabilidade criativa nas contas públicas, eufemismo para malabarismos primários, também é apontada pela revista como causa da perda de credibilidade, assim como a expansão do endividamento bruto do governo.
O país conta com bastante potencial, mas para explorá-lo, o governo terá que mudar o rumo, mergulhar em reformas estruturais importantes. Com elevada carga tributária, não há mais espaço para aumentar impostos. O governo deverá reduzir seus gastos, principalmente com os pensionistas.
Além disso, terá de criar um ambiente mais amigável para os investidores. Não é protegendo empresas nacionais que se faz isso, ao contrário do que o governo acredita, e sim estimulando mais competição externa. O Mercosul tem sido um obstáculo a isso, reconhece a revista.
A reforma política é o terceiro pilar apontado como necessário para as reformas. A proliferação de partidos e ministérios, com base no velho fisiologismo, impede avanços. Mas a reforma tem que partir justamente de quem não quer mudar esse esquema. Dilma, segundo a The Economist, não tem mostrado habilidade política para enfrentar o desafio.
O Brasil ainda não afundou, e tem salvação. Mas para decolar novamente, a presidente terá que mudar sua gestão. Assim termina a reportagem, com um toque de esperança. Da mesma forma que a revista se mostrou muito otimista em 2009, penso que ainda insiste no erro, ao acreditar ser possível que esse mesmo governo, com essa presidente, possa alterar drasticamente o rumo da gestão. Sonho de uma noite de verão.
A revista deveria ser mais realista: para tais mudanças ocorrerem, só com outro governo. Esse é caso perdido. O Cristo Redentor vai mergulhar de vez e enterrar a cabeça na Lagoa Rodrigo de Freitas ou na Baía de Guanabara, dependendo do lado que cair.
Já os petistas, que até “ontem” estavam eufóricos com a revista, também vão apelar para a tática do avestruz e enterrar a cabeça na areia, para não ter que ler a matéria e se confrontar com a triste realidade de sua péssima gestão.
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