OPINIÃO
A inflação voltou a subir, depois de uma breve trégua, deve continuar elevada e ainda estará acima da meta, 4,5%, no segundo trimestre de 2015, segundo a projeção divulgada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Não há outros detalhes sobre a projeção, mas o essencial da mensagem é bastante claro: por mais dois anos, pelo menos, o Brasil deverá suportar uma alta de preços bem superior à da maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, incluídos, é claro, os concorrentes comerciais mais importantes. O recrudescimento das pressões inflacionárias foi confirmado, nos últimos dias, por vários órgãos de pesquisa.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a política de metas, subiu 0,24% em agosto, informou na sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mês anterior havia ficado quase estável, com acréscimo de apenas 0,03%. Também na sexta-feira a Fundação Getúlio Vargas (FGV) informou a elevação de 0,46% do Índice Geral de Preços (IGP-DI), mais que o triplo da registrada em julho (0,14%).
Na mesma semana o Banco Central(BC) havia publicado seu Índice de Commodities (IC-Br), com variação de 3,77% no mês passado, 3,54% no ano e 5,35% em 12 meses. Todos os componentes - produtos da agropecuária, metais e energia - encareceram. O aumento no atacado apareceu também nos dados da FGV. Foi uma variação de 0,58%, o terceiro aumento consecutivo depois de cinco meses de quase estabilidade.
A fase de acomodação celebrada pelo governo acabou. O repasse do atacado para o varejo pode ser muito limitado, em certas ocasiões, mas isso depende basicamente das condições da demanda e "das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória futura da inflação", como está indicado na Ata do Copom. Por enquanto, a disposição dos consumidores permanece propícia ao repasse dos aumentos, apesar de alguma insegurança detectada em pesquisas recentes.
A alta de 0,24% do IPCA, muito maior que a de julho, foi apenas um dos sinais de alerta. O indicador de difusão - a proporção de itens com aumento de preços - havia chegado a 55,1% em julho, depois de longo tempo acima de 60%. Em agosto, subiu para 58,6%, segundo cálculo da consultoria Rosenberg & Associados. Também o indicador de difusão dos preços ao consumidor incluídos no IGP deu um salto - de 50,3% para 57,1%. O efeito de contágio das novas pressões inflacionárias é obviamente amplo. Seria enganadora, portanto, qualquer tentativa de atribuir a inflação a pressões localizadas em um grupo restrito de bens ou serviços.
Segundo a Ata do Copom, a demanda interna tende a continuar "relativamente robusta", especialmente no caso do consumo das famílias. Emprego elevado, aumento da renda e "expansão moderada do crédito" sustentam essa demanda. "Esse ambiente tende a prevalecer neste e nos próximos semestres", de acordo com o documento. Os efeitos da alta de juros levarão algum tempo para se manifestar claramente.
Também há pressões do lado da oferta. A margem de ociosidade no mercado de trabalho é estreita, observam os economistas do BC, e "a dinâmica salarial" continua gerando "pressões inflacionárias de custos". Nessa área houve pelo menos uma notícia positiva nos últimos dias: os custos industriais no segundo trimestre deste ano foram 2% maiores que um ano antes - a menor taxa desde 2010. Mas isso se explica em boa parte por fatores instáveis, como a redução de juros (já em reversão), a desoneração de impostos e a diminuição do custo de energia. A elevação do custo do pessoal havia diminuído no primeiro trimestre, mas voltou a acelerar-se no segundo.
Curiosamente, a Ata do Copom deixou de citar o caráter expansionista da política fiscal e, sem maiores explicações, apontou uma tendência das contas públicas para a neutralidade. Em outras palavras, as finanças federais tendem a perder importância como fator inflacionário. É um otimismo estranho, especialmente diante de uma campanha eleitoral com grande potencial de gastança e de distribuição de favores.
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