EDITORIAIS
Os sinais sustentados de recuperação da economia dos Estados Unidos e a possibili-dade de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) comece a reduzir ainda este ano as políticas de estímulo à atividade produtiva provocam efeitos avassaladores nos mercados do mundo inteiro. Desde 2008, no início da chamada Grande Recessão, o Fed fez sucessivos programas de estímulo monetário que hoje significam a recompra mensal de cerca de US$ 85 bilhões (hoje, o equivalente a R$ 190 bilhões) em títulos do Tesouro. Essa é uma maneira de injetar dólares no mercado, forçando a queda da taxa de juro, que ficou próxima de zero, aquecendo a atividade econômica. O efeito colateral dessa política é a migração de capitais para os mercados emergentes, entre eles o do Brasil, que oferece uma das mais altas taxas de juros do mundo.
Com a expansão do PIB no segundo trimestre acima do previsto (1,7%) e o menor índice de desemprego nos últimos quatro anos, os EUA ensaiam frear a compra de títulos. Com menos dólares no mercado e uma perspectiva de alta, a taxa de juro volta a subir e o mercado americano torna-se mais atraente do que os emergentes. Na Índia, o governo adotou uma política de controle de capitais para frear a desvalorização de sua moeda frente ao dólar e deter a fuga de investimentos. No Brasil, o dólar já acumula valorização superior a 18% frente ao real e encosta no patamar de R$ 2,40.
Diante desse cenário, somado ao baixo crescimento da economia e à falta de confiança dos investidores na política econômica do governo, o Brasil enfrenta um momento desafiador, que exige decisões rápidas. Nos últimos meses, o governo adotou medidas pontuais para conter a valorização da moeda americana, entre as quais a venda de dólares no mercado futuro e a retirada do depósito compulsório no Banco Central para operações de financiamento de antecipações de pagamentos de exportações. Mesmo assim, o país está perdendo posições no ranking econômico global e pode ser ultrapassado pela Rússia já no próximo ano.
Em momentos como o atual, não se pode prescindir de uma condução firme e segura da economia por parte da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega. De nada adiantam as declarações tantas vezes reiteradas de que a desconfiança do mercado é exagerada. Está mais do que claro que medidas pontuais de ampliação do crédito e estímulo ao consumo não têm o condão de reverter tendências que, além de tudo, originam-se no cenário global. Não haverá melhoria de performance apenas porque o Palácio do Planalto assim o deseja. Pelo contrário: o clima de pessimismo contagia consumidores e investidores e freia a economia. Por isso, é mais do que urgente, por parte das autoridades, a adoção de uma nova inflexão, responsável e equilibrada, na política econômica, a fim de que se evite um ponto no qual qualquer ação pode se revelar excessivamente tardia.
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