PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA TRIBUTÁRIA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL - Art.150, § 5º - A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

SOBE UM DESCE OUTRO


ZERO HORA 16 de janeiro de 2013 | N° 17314

Zero a zero nas contas

Redução na tarifa de luz e aumento dos combustíveis a partir de fevereiro terá resultado tímido no orçamento das famílias


CAIO CIGANA E MARCELO SARKIS

A esperança de um refresco no orçamento doméstico com a queda de 16,2% na tarifa residencial de energia a partir de fevereiro encolheu. Apesar do alívio na conta de luz, o aumento de 7% no preço da gasolina, que deve ser confirmado até a próxima semana pelo governo federal, reduz a economia a zero – 0,23% do orçamento, para ser mais preciso.

A conclusão é de um cálculo da Fundação Getulio Vargas (FGV) elaborado a partir do peso dos dois itens nos gastos mensais das famílias da Capital, seguindo dos critérios do Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S). A simulação considera uma esperada pequena diminuição do consumo do combustível e, da mesma forma, um leve acréscimo no uso da energia elétrica, movimentos típicos de quando há variação nos preços. Para uma família com renda de R$ 10 mil, a economia seria de apenas R$ 23.

Mesmo que os números frios mostrem um zero a zero no bolso do consumidor, especialistas em finanças pessoais entendem que, no fim das contas, os gastos serão maiores. No caso da gasolina, apesar de um recato logo após o reajuste chegar nas bombas, a tendência do motorista seria retomar o abastecimento e o ritmo de uso do automóvel. O consumo da luz, por sua vez, tenderia a crescer, tanto por certa perda do zelo na utilização quanto pela aquisição cada vez maior das famílias de eletrônicos e eletrodomésticos.

– Em termos de comportamento, talvez no curto prazo o consumidor sinta e diminua o uso do automóvel. Mas, pela característica do brasileiro, com o tempo ele absorve este aumento e retorna à rotina. E a tendência também é consumir mais luz pela compra cada vez maior de itens que dão mais conforto e comodidade. As pessoas podem ficar mais displicentes no uso da energia – avalia Otto Nagami, professor de economia e finanças pessoais do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Para Nagami, até as famílias de renda baixa, sem automóvel, tendem a sentir o impacto do reajuste da gasolina pelos reflexos nos preços de produtos e serviços.

O economista Everton Lopes, especialista em educação financeira, pondera que o reflexo no orçamento depende do perfil das famílias. Se o carro é usado também para trabalhar e não apenas para deslocamentos, a tendência é o aumento do custo com a gasolina superar com folga a economia com tarifa de energia. Na melhor das hipóteses, o economista projeta que as duas variações de preços se anularão.

– O ideal seria manter o consumo da gasolina e utilizar o automóvel apenas para o estritamente necessário. Tem gente que vai de carro até na padaria da esquina – ilustra Lopes.

Para Patrícia de Rezende, psicóloga e orientadora em comportamento financeiro, os novos preços não devem alterar o modo de agir do consumidor.

– Não vejo que possa ocorrer mudança nas pessoas. Os gastadores podem até se conter um pouco, mas depois voltam ao normal. O gastador não pode ver uma promoção: ele vai lá e compra. O que dita a regra de como a pessoa vai agir é o perfil – sentencia.

Apesar de comemorada, a queda nas tarifas de luz também é vista com desconfiança por especialistas por ter sido feito na marra, com uma queda brusca na remuneração das usinas. A fórmula poderia inibir investimentos para aumentar a oferta de energia no futuro. Seria algo semelhante ao que ocorreu com a Petrobras nos últimos anos. O governo segurou os preços, mas agora se vê forçado a liberar um aumento na refinaria para a empresa. E pela primeira vez em 10 anos, sem um mecanismo de compensação para que o reajuste não chegue ao consumidor, como corte da Cide, um dos tributos federais no combustível. O temor é, nos próximos anos, o setor de geração enfrentar as mesmas dificuldades da estatal e não conseguir investir para suprir o crescimento do consumo. Com novos reflexos no bolso do consumidor. Algo como “eu sou você amanhã”.

Família faz cálculos e vê efeito limitado em reajustes

Se a luz baixa, a gasolina sobe. Na equação de gastos para acabar com contas pagas e saldo positivo no banco, a impressão da família Müller, de Porto Alegre, é de que nada vai mudar. Com dois carros na garagem e três splits em casa, um deles comprado na tarde de ontem, luz e gasolina são itens que pesam no orçamento da casa.

Os advogados Cristiano Müller e Ana Cristina, pais de Maria Luisa, três anos, e Sofia, três meses, não tiveram nem tempo de comemorar a queda no preço da conta de luz. Foi só saber que a redução de 16,2% estava confirmada para começar em fevereiro, que junto veio a notícia do aumento de preço na gasolina, ainda sem data para começar a valer.

– A nossa conta de luz é bem alta, mas a gente gasta muito mais com gasolina. Se pudesse escolher, eu preferia que não tivesse mudado nada – resigna-se Ana Cristina.

Para Cristiano, a mudança nas tarifas não vai afetar os hábitos familiares. Para compensar o aumento na gasolina, não poderão relaxar com a conta de luz.

– Vamos ter de continuar controlando, não adianta. Enquanto os preços não baixam, a solução é ficar no cheque especial, ir dando um jeito – lamenta Cristiano.



COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - "Zero a zero nas contas" é fruto da imaginação e da retórica popular do Governo Brasileiro. Aumentando a gasolina vai aumentar tudo: do frete aos produtos e serviços. É a inflação retornando com todo o vigor. Cuidem-se.

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