PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA TRIBUTÁRIA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL - Art.150, § 5º - A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

AUMENTO NA ENERGIA E NO DIESEL ELEVAM CUSTO DOS ALIMENTOS

ZERO HORA 03/02/2015 | 05h02

Lavoura cara. Alta no preço da energia e do diesel consome lucros do arroz. Reajustes feitos em 2014 e os previstos para este ano aumentarão em ao menos R$ 218 o custo de produção por hectare

por Joana Colussi



Por falha no fornecimento em 2014, Clarissa conta que deixou de colher o equivalente a mil hectares Foto: Rodimar Ferreira / Especial


Superada a crise no preço do arroz, os produtores estão agora diante de nova equação. Com 100% da área irrigada no Rio Grande do Sul e muita dependência de mecanização, a produção exige equipamentos potentes para preparar o solo e conduzir a água até as lavouras — orçamento difícil de ser ajustado devido à alta da energia elétrica e do óleo diesel. Juntos, os dois insumos respondem por até 16% do custo total de produção do arroz.



— Será um ano duríssimo para o arrozeiro — prevê Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz).

Segundo a entidade, a energia pode responder por até 10% dos gastos da lavoura, acrescidos de outros 6% do óleo diesel. Os reajustes feitos em 2014 e os previstos para este ano aumentarão em ao menos R$ 218 o custo por hectare da lavoura na próxima safra, segundo a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). Para pagar a diferença, o produtor precisará colher mais seis sacas de arroz de 50 quilos por hectare.

— De nada adianta estarmos com um preço de quase R$ 40 por saca de arroz quando gastamos R$ 38 para produzir — reclama Francisco Schardong, presidente da Comissão do Arroz da Farsul.


No final desta semana, quando a colheita do arroz será aberta oficialmente, no município de Tapes, a Federarroz apresentará estudo inédito sobre custos de produção em sete municípios: Alegrete, Camaquã, Dom Pedrito, Mostardas, Restinga Sêca, Santa Vitória do Palmar e Uruguaiana. Para fazer o levantamento, foram avaliadas propriedades de 35 a 600 hectares.

— Uma das constatações é de que, na cultura do arroz, a escala é um fator importante para diluição do custo fixo, um dos principais gargalos do setor hoje — destaca Tiago Sarmento Barata, diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).

Na planilha de custos do estudo, a energia duela com a mão de obra, que responde por até 11% dos gastos. O aguador, por exemplo, que faz o manejo hídrico da lavoura, é um trabalhador cada vez mais raro.

— O Estado tem custo de produção extremamente elevado — completa Barata.

Com uma produção estimada em 8,17 milhões de toneladas na safra atual — cerca de 65% da produção nacional — o Rio Grande do Sul deverá colher 7,3 mil quilos por hectare, conforme estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Não fosse a alta de preço dos insumos, o cenário seria de comemoração.

— O arroz nunca esteve tão valorizado como agora, mas os altos custos acabam corroendo boa parte da rentabilidade — lamenta Dornelles, que prevê repasse de preços ao consumidor final em curto prazo.

Alta acentuada

R$ 5,5 mil por hectare é o custo total da produção calculado pela Farsul para a atual safra de arroz. O cálculo tem como base a alta de 30% na energia em 2014, mais 37% previstos pelo Instituto Acende Brasil para 2015 com o fim do subsídio ao setor elétrico, a elevação do preço de Itaipu e o reajuste anual. Também entra na conta o aumento de R$ 0,15 no litro do diesel nas refinarias em 2015.

Veja quanto os aumentos de energia e combustível irão impactar nos custos de produção do arroz no Rio Grande do Sul, por hectare:

Energia elétrica: R$ 178
Óleo diesel: R$ 40
Total: R$ 218

O cultivo encharcado



1) A água é levada à lavoura com o uso de equipamentos elétricos. Uma lavoura de 400 hectares costuma utilizar motor de 150 cavalos, que consome 110 kilowatts/hora (kWh).

2) Os produtores, em geral, utilizam o motor por 21 horas diárias. Nesse padrão médio, o consumo mensal é de 69,55 mil kWh, o que equivalente a consumo de 278 residências com quatro pessoas.

3) O motor puxa água para criar uma área alagada, em que o arroz se desenvolve. A planta consegue sobreviver com até cerca de 10 centímetros de água no solo.

Custo elevado inviabiliza uso de geradores

Com 7,5 mil hectares de arroz cultivados em Itaqui, Uruguaiana e Maçambará, na Fronteira Oeste, o grupo Pitangueira tem na energia não apenas um dos principais custos da lavoura, mas um forte fator de insegurança. A incerteza, que via de regra é atribuída às condições climáticas, na fazenda é ditada pela instabilidade no fornecimento de energia elétrica.

— Chegamos a ficar cinco dias sem luz. A questão não é só preço, mas deficiência na qualidade da energia — diz Clarissa Peixoto, agrônoma e filha do proprietário, Pedro Monteiro Lopes.

Em 2014, a propriedade deixou de colher o equivalente a cerca de mil hectares por falhas no abastecimento. Por se tratar de uma área muito grande, diz Clarissa, é praticamente impossível instalar geradores elétricos que deem segurança para o sistema de irrigação por inundação.

— O custo seria altíssimo. Temos gerador na sede da propriedade para garantir necessidades básicas dos colaboradores — explica Clarissa, acrescentando que o problema é histórico na região, distante mais de 600 quilômetros da Capital.

Ao desembolso com energia, somam-se gastos com óleo diesel para abastecer máquinas e com mão de obra — mais de 250 funcionários.

— Não queremos só garantia de preço do arroz, queremos poder pagar nossos custos, que são elevados — diz Lopes, que beneficia 50% da produção e vende o restante para indústrias.

Com investimento de quase R$ 5 mil por hectare, a fazenda Pitangueira terá de colher ao menos 150 sacas por hectare para cobrir gastos. Na atual colheita, a expectativa é alcançar 8,5 mil quilos por hectare (170 sacas), com custo 15% maior do que no ciclo anterior.

As explicações das concessionárias


Duas companhias, CEEE e AES Sul, atendem as principais regiões produtoras do cereal no Rio Grande do Sul. Veja o que dizem sobre as queixas dos produtores

Companhia estadual de Energia Elétrica (CEEE)

Por meio de nota, afirma que está sendo executado um programa de expansão e manutenção de subestações e alimentadores na região de Santa Vitória do Palmar e Pelotas para atender ao crescimento do mercado e oferecer energia de melhor qualidade. Para o primeiro semestre do ano, está prevista conexão da nova subestação Santa Vitória do Palmar 2 ao linhão de 525 quilovolts (kV).

— Sabemos onde estão os problemas e estamos tomando medidas mitigatórias, mas a solução só pode ser construída a longo prazo — afirma o diretor de distribuição da companhia, Júlio Hofera.

AES Sul

Em nota, informa que executou 1,1 mil religações solicitadas no início da safra. Diz, ainda, que o fornecimento de energia está sujeito a interrupções por motivos diversos, como temporais ocorridos na área de concessão (oito tempestades em 23 dias, com danos na rede). A companhia recomenda que os interessados busquem alternativas de fornecimento onde não pode haver interrupção. Esclarece que eventuais custos adicionais podem ser compensados com o subsídio que os produtores de arroz têm na energia elétrica, de até 70%. Afirma também que investiu R$ 1,5 milhão no Plano Safra, sendo a maior parte dos recursos voltada às lavouras de arroz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário