ZERO HORA 05 de junho de 2013 | N° 17453
EFEITO IMEDIATO
Viagens e eletroeletrônicos são os primeiros a sentir os efeitos da recente valorização da moeda americana, que, se persistir, deve se espalhar por outros itens nos próximos meses. Ontem à noite, o governo agiu para tentar conter a recente elevação da cotação
Depois de um período de calmaria, o câmbio voltou a subir e atingiu o maior patamar em quatro anos. Além do impacto imediato para quem está de viagem marcada, voltou do Exterior ou está fora do país, o avanço do dólar pode complicar ainda mais a tarefa do governo de combater a inflação.
O efeito é imediato em vários setores. Produtos importados, como eletroeletrônicos, são bastante sensíveis a oscilações da moeda. Fabricantes e varejistas costumam repassar a variação de preços em alimentos importados, ou que utilizam insumos vindos do Exterior, como o pão, que tem o trigo importado como matéria-prima.
Um pouco mais tarde, os efeitos também chegam aos produtos fabricados no Brasil. É o caso dos alimentos. Com o dólar valendo mais, a exportação se torna mais atraente e o produtor prefere vender para outros países. A menor oferta no mercado interno faz o preço nas prateleiras subir.
– A indústria já começa a especular possíveis aumentos, mas o varejo luta contra. É preciso ver se esse será um cenário duradouro ou apenas um soluço cambial – afirma o gerente de vendas da Lojas Colombo, Leandro Arruda.
A oscilação da moeda é considerada mais um complicador que o governo tem de enfrentar para manter a inflação sob controle. Isso porque existe uma relação direta entre o índice e a moeda americana. Quando o dólar sobe 10%, há um impacto de 1% no IPCA.
Além do PIB fraco e da projeção de fim do estímulo do Federal Reserve – banco central dos Estados Unidos – que injeta US$ 85 bilhões por mês no mercado, especialistas creditam a escalada da moeda americana à mudança de discurso do governo brasileiro.
Na semana passada, no mesmo dia em que o Banco Central (BC) aumentou a taxa de juro para combater o avanço de preços, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o câmbio não seria um instrumento de controle da inflação e que a alta do dólar seria positiva para as exportações brasileiras. Ontem, a declaração do diretor de política monetária do BC, Aldo Mendes, de que o país teria de conviver com uma moeda mais fraca, fez o dólar saltar para R$ 2,15. Às 13h, quando o BC fechou a sua cotação de referência, o valor estava em R$ 2,1282.
Ação do governo pode frear valor
Mas, no início da noite de ontem, o governo resolveu intervir e Mantega anunciou a redução da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% para zero referente ao ingresso de capital estrangeiro em aplicações de renda fixa. Essa medida deve trazer mais dólares para o país, reduzindo a cotação da moeda.
– No passado, tínhamos elevado este tributo, que era zero, para 6%, porque havia grande liquidez no mercado internacional, e essa liquidez ameaçava entrar fortemente no Brasil, atrapalhando nosso câmbio e nossas atividades – afirmou o ministro, referindo-se ao que a presidente Dilma Rousseff chamou de tsunami de dólares que atingia os países emergentes.
Mantega descartou que há intenção de fazer política anti-inflacionária via câmbio. Segundo o ministro, os instrumentos de política monetária são aqueles que o BC utilizou na semana passada – a elevação da taxa básica de juro para 8% ao ano. O ministro lembrou que, em 2011, havia uma enxurrada de dólares para o país, mas agora há um cenário mais normalizado e equilibrado. Mantega disse que, com a sinalização do Fed, diminui o excesso de liquidez no mercado internacional. Se houver o refluxo da liquidez, o governo coibirá os excessos.
Essa ação amplia as dúvidas sobre possível novo nível de intervenção do BC no câmbio, após um período de calmaria entre julho de 2012 e janeiro deste ano. Dividido entre um dólar mais favorável à indústria e o efeito da alta nas cotações sobre a inflação, a autoridade monetária manteve uma banda informal entre R$ 2 e R$ 2,10 naquele período.
– Existe uma contradição. O governo aumentou o juro, contrariando os próprios princípios, e agora deixa o câmbio disparar. A alta do dólar anula o efeito da Selic – avalia o economista Sidnei Moura Nehme.
CADU CALDAS
EFEITO IMEDIATO
Viagens e eletroeletrônicos são os primeiros a sentir os efeitos da recente valorização da moeda americana, que, se persistir, deve se espalhar por outros itens nos próximos meses. Ontem à noite, o governo agiu para tentar conter a recente elevação da cotação
Depois de um período de calmaria, o câmbio voltou a subir e atingiu o maior patamar em quatro anos. Além do impacto imediato para quem está de viagem marcada, voltou do Exterior ou está fora do país, o avanço do dólar pode complicar ainda mais a tarefa do governo de combater a inflação.
O efeito é imediato em vários setores. Produtos importados, como eletroeletrônicos, são bastante sensíveis a oscilações da moeda. Fabricantes e varejistas costumam repassar a variação de preços em alimentos importados, ou que utilizam insumos vindos do Exterior, como o pão, que tem o trigo importado como matéria-prima.
Um pouco mais tarde, os efeitos também chegam aos produtos fabricados no Brasil. É o caso dos alimentos. Com o dólar valendo mais, a exportação se torna mais atraente e o produtor prefere vender para outros países. A menor oferta no mercado interno faz o preço nas prateleiras subir.
– A indústria já começa a especular possíveis aumentos, mas o varejo luta contra. É preciso ver se esse será um cenário duradouro ou apenas um soluço cambial – afirma o gerente de vendas da Lojas Colombo, Leandro Arruda.
A oscilação da moeda é considerada mais um complicador que o governo tem de enfrentar para manter a inflação sob controle. Isso porque existe uma relação direta entre o índice e a moeda americana. Quando o dólar sobe 10%, há um impacto de 1% no IPCA.
Além do PIB fraco e da projeção de fim do estímulo do Federal Reserve – banco central dos Estados Unidos – que injeta US$ 85 bilhões por mês no mercado, especialistas creditam a escalada da moeda americana à mudança de discurso do governo brasileiro.
Na semana passada, no mesmo dia em que o Banco Central (BC) aumentou a taxa de juro para combater o avanço de preços, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o câmbio não seria um instrumento de controle da inflação e que a alta do dólar seria positiva para as exportações brasileiras. Ontem, a declaração do diretor de política monetária do BC, Aldo Mendes, de que o país teria de conviver com uma moeda mais fraca, fez o dólar saltar para R$ 2,15. Às 13h, quando o BC fechou a sua cotação de referência, o valor estava em R$ 2,1282.
Ação do governo pode frear valor
Mas, no início da noite de ontem, o governo resolveu intervir e Mantega anunciou a redução da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% para zero referente ao ingresso de capital estrangeiro em aplicações de renda fixa. Essa medida deve trazer mais dólares para o país, reduzindo a cotação da moeda.
– No passado, tínhamos elevado este tributo, que era zero, para 6%, porque havia grande liquidez no mercado internacional, e essa liquidez ameaçava entrar fortemente no Brasil, atrapalhando nosso câmbio e nossas atividades – afirmou o ministro, referindo-se ao que a presidente Dilma Rousseff chamou de tsunami de dólares que atingia os países emergentes.
Mantega descartou que há intenção de fazer política anti-inflacionária via câmbio. Segundo o ministro, os instrumentos de política monetária são aqueles que o BC utilizou na semana passada – a elevação da taxa básica de juro para 8% ao ano. O ministro lembrou que, em 2011, havia uma enxurrada de dólares para o país, mas agora há um cenário mais normalizado e equilibrado. Mantega disse que, com a sinalização do Fed, diminui o excesso de liquidez no mercado internacional. Se houver o refluxo da liquidez, o governo coibirá os excessos.
Essa ação amplia as dúvidas sobre possível novo nível de intervenção do BC no câmbio, após um período de calmaria entre julho de 2012 e janeiro deste ano. Dividido entre um dólar mais favorável à indústria e o efeito da alta nas cotações sobre a inflação, a autoridade monetária manteve uma banda informal entre R$ 2 e R$ 2,10 naquele período.
– Existe uma contradição. O governo aumentou o juro, contrariando os próprios princípios, e agora deixa o câmbio disparar. A alta do dólar anula o efeito da Selic – avalia o economista Sidnei Moura Nehme.
CADU CALDAS
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