ZERO HORA 04 de junho de 2015 | N° 18183
CADU CALDAS*
SEXTA ALTA SEGUIDA. JURO SOBE E TEM MAIOR TAXA EM SETE ANOS
BC AUMENTOU A SELIC EM 0,50 PONTO percentual, para 13,75% ao ano, ritmo de alta já aguardado pelo mercado financeiro. A última vez que a taxa esteve nesse patamar foi em dezembro de 2008, no auge da crise financeira internacional. Nova elevação é tentativa de segurar a inflação, que está acima do teto da meta em 12 meses
Apesar do ritmo lento da economia e da retração do mercado de trabalho no primeiro trimestre, o Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juro mais uma vez. O Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a Selic de 13,25% para 13,75% ao ano – a maior desde a crise econômica internacional em 2008.
O aumento – o sexto consecutivo – era esperado por analistas do mercado financeiro. Com uma taxa mais alta de juro, o Banco Central (BC) tenta controlar o crédito e o consumo, atuando assim para segurar a inflação, que em abril registrou 8,13% em 12 meses, bem acima do teto da meta estabelecida pelo governo, de 6,5%.
A dúvida maior de especialistas era sobre o tamanho da dose que seria administrada pelo BC para segurar o avanço dos preços em um momento delicado para a equipe econômica. Cinco dias atrás, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou que a economia brasileira encolheu 0,2% entre janeiro e março. Ontem, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE apontou que a taxa de desemprego chegou a 8% em abril. A nova alta do juro deve tornar o cenário mais complicado porque impacta diretamente o consumo das famílias e o investimento de empresas, que já vem encolhendo desde o início de 2015. A Selic é uma taxa de referência para aplicações e empréstimos.
– O novo aumento de juro ocorre, apesar do baixo nível de atividade na economia, para evitar remarcação de preços e impedir o retorno de um nível maior de indexação, quando uma inflação passada é repassada para frente, como aquele existente na década de 1980. É uma questão de expectativa, mas importante – afirma Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados.
Apesar do aumento do juro, o próprio Banco Central já admite que a inflação não chegará a dezembro dentro da meta. O BC tem dito que trabalha para evitar a propagação da elevação de preços neste ano e para trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%, até o final de 2016. Para 2015, o mercado prevê IPCA de 8,25%, o maior patamar desde 2003.
Do lado da atividade econômica, analistas dão como certo que o país deve entrar em recessão, a exemplo do registrado no ano passado. A chamada recessão técnica se caracteriza por dois trimestres seguidos de contração do Produto Interno Bruto.
A avaliação do mercado é de que o BC errou a mão do juro no passado: o foco no combate à inflação está cada vez mais claro e faz parte da reconstrução da imagem da instituição. A diretoria não escapará de ter de enviar uma carta ao ministro da Fazenda justificando os motivos que a levaram a descumprir a meta de inflação.
No comunicado divulgado logo após a decisão unânime foi mantido o texto básico das reuniões anteriores. Desde janeiro, o Copom mantém as mesmas palavras: “Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 pp”. Os detalhes sobre o que levou o colegiado a promover nova rodada de alta estarão na ata divulgada na próxima quinta-feira.
– Entendemos que o reequilíbrio da economia é uma condição necessária para a retomada do crescimento. Porém, o aumento na taxa representa um peso adicional sobre empresários e consumidores – disse Heitor José Müller, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
*Com agências de notícias
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