PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA TRIBUTÁRIA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL - Art.150, § 5º - A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços.

sábado, 31 de maio de 2014

PIB BAIXO E EMPOBRECIMENTO DO CONSUMIDOR


Brasil fica em 24º lugar em ranking mundial de crescimento econômico, mostra estudo. País perde de Reino Unido, Estados Unidos, que estão saindo de crise. Na América Latina, expansão no primeiro trimestre ficou atrás de Peru e Chile

RONALDO D'ERCOLE
O GLOBO
Atualizado:30/05/14 - 22h53





SÃO PAULO - O fraco desempenho da economia no primeiro trimestre fez com que o Brasil ficasse na 24ª posição entre as economias que mais cresceram no mundo neste início de ano, de acordo com ranking elaborado pela Austin Rating. Entre os países latino-americanos, o Brasil superou o México (25º, com 1,8% de alta do PIB na comparação com o primeiro trimestre de 2013), mas está atrás do Peru, o sexto colocado, que teve expansão de 4,8%, e do Chile, o 18º, cuja economia avançou 2,6% no período.

O IBGE divulgou nesta sexta-feira que o PIB (soma de bens e serviços produzidos) do país teve crescimento de 0,2% de janeiro a março deste ano, na comparação com quatro trimestre de 2013, e de 1,9% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado.


Na compilação da Austin, a China segue com folga na liderança, com expansão de 7,4% na comparação do primeiro trimestre deste ano com igual período de 2013, seguida de Malásia (6,2%) e das Filipinas (5,7%). Apesar da crise que resiste na Europa e na América do Norte, grandes economias dessas regiões conseguiram crescer mais que o Brasil.

O Reino Unido, o 112º da lista, avançou 3,1% no primeiro trimestre, enquanto os Estados Unidos e Alemanha (21º e 22º, respectivamente) tiveram taxa de expansão de 2,3% sobre o primeiro trimestre do ano passado.

No ranking do primeiro trimestre de 2013, também elaborado pela Austin, o Brasil aparecia na 11ª posição, igualmente com uma expansão de 1,9% sobre os primeiros três meses de 2012.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin, chama a atenção para o fato de que, além dos asiáticos Indonésia, Tailândia e Filipinas, o Brasil agora cresce menos também que boa parte das economias do Leste Europeu, como Lituânia (3,1%), Letônia (2,8%), Eslováquia (2,4%) e Polônia (3,3%).

— Nos últimos 20 anos, desde o Plano Real, o Brasil cresce a uma taxa média de 3% ao ano, com uma inflação média de 7,2% ao ano, situação diferente dos países do Leste Asiático, que, depois da crise de 1997 na região, conseguiram se recuperar e têm inflaçao menor que a brasileira — observa Agostini, acrescentando: — Isso significa que o Brasil tem problemas crônicos de ordem doméstica na condução da política macroeconômica, porque não consegue crescer mais nem combater a inflação.

Agostini lembra ainda que, mesmo as economias desenvolvidas como as da Alemanha e dos Estados Unidos, que normalmente crescem pouco, apesar da persistência da crise já superam o Brasil.

— Esse crescimento de 1,9% no trimestre mostra que o país não consegue achar a direção correta de sua política econômica.

No Brasil, o consumo das famílias caiu 0,1% no primeiro trimestre do ano frente aos últimos três meses de 2013, pela primeira vez desde o terceiro trimestre de 2011, quando havia encolhido 0,3%. A agropecuária avançou 3,6% na mesma comparação. Já a indústria caiu 0,8%, no terceiro trimestre consecutivo de recuo. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador de investimentos, também encolheu: 2,1%.

EMPOBRECIMENTO DO CONSUMIDOR

http://oglobo.globo.com/videos/t/todos-os-videos/v/catalogo/3383836/

sexta-feira, 30 de maio de 2014

DETRAN ARRECADA MAIS DE UM BILHÃO PARA O CAIXA ÚNICO DO RS

ZERO HORA 22/01/2014 | 06h08

por Carlos Rollsing

Na carona da autarquia. Detran arrecada mais de R$ 1 bilhão e, com cobrança de novas taxas, garante reforço para o caixa único do Estado. Aumento de 47,6% na receita, de 2012 para o ano passado, ajuda a bancar despesas gerais


No decorrer de 2013 — primeiro ano em que vigoraram as novas taxas doDetran, elevadas após aprovação de projeto do governo Tarso Genro naAssembleia Legislativa — , a arrecadação do departamento aumentou 47,6% em comparação com 2012, alcançando a marca de R$ 1,1 bilhão.

Como os gastos mantiveram um patamar semelhante nos dois últimos exercícios, o superávit chegou a 151,5% no ano passado. O “lucro” de R$ 430 milhões, porém, ajudou o Estado a bancar despesas gerais.

Isso porque a receita excedente acaba indo parar no caixa único, uma conta do governo estadual em que são concentrados recursos de diversas origens para aplicação em despesas variadas, incluindo, por exemplo, folha de pagamento e fornecedores.

Aprovado em 2012 pela base aliada do governo na Assembleia, o projeto de lei que autorizou o aumento das cobranças do Detran sobre os proprietários de veículos na emissão de documentos passou a ter validade em 1º de janeiro de 2013.

A principal alteração atingiu a expedição do Certificado de Registro do Veículo (CRV), que passou de R$ 40,95 para R$ 98,34, um acréscimo de 140%. Esse é um dos motivos para a arrecadação mais alta.

O superávit subiu em medida ainda maior porque a majoração na receita foi acompanhada da estabilidade nos gastos do Detran, que cresceram 8,4% de 2012 para o ano passado. A oposição critica os resultados, indicando que a gestão do departamento está mais preocupada em desenvolver ações de “caráter arrecadatório”.

— É uma forma de ampliar a receita metendo a faca no bolso do contribuinte. As taxas do Detran, por lei, deveriam existir só para custear os seus gastos. Criam um superávit para abastecer o caixa único. Isso é para fazer frente ao tamanho do Estado que o governo Tarso construiu — atacou o deputado estadual Giovani Feltes (PMDB), que chega a comparar a elevação das taxas do Detran a uma política de majoração do ICMS.

Procurado por ZH, o diretor-presidente do Detran, Leonardo Kauer, não foi encontrado. A assessoria informou que ele — único que poderia falar sobre o caso — passou o dia em reuniões e, à noite, viajou para o Interior.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

EVOLUÇÃO DA TAXA DE JUROS



Foto: Arte ZH


ZERO HORA 28/05/2014 | 21h11

Juros básicos. Copom encerra ciclo de aumento e mantém Selic em 11% ao ano. Em 13 meses, essa é a primeira vez em que o Copom deixou de reajustar os juros básicos

Depois de nove aumentos consecutivos, o Banco Central (BC) interrompeu o ciclo de aperto monetário. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic - juros básicos da economia - em 11% ao ano.

É a primeira vez em 13 meses em que o Copom deixou de reajustar os juros básicos. Apesar da manutenção, a taxa Selic permanece no maior nível desde novembro de 2011, quando também estava em 11% ao ano.

Quando a presidenta Dilma Rousseff tomou posse, em janeiro de 2011, os juros básicos estavam em 10,75% ao ano e foram gradualmente reajustados nos meses seguintes. Em agosto do mesmo ano, a taxa passou a ser reduzida sucessivamente pelo Copom até atingir 7,25% ao ano em outubro de 2012, o menor patamar da história. A Selic foi mantida nesse nível até abril de 2013, quando o Copom iniciou um novo ciclo de alta nos juros básicos para conter a inflação.

A Selic é o principal instrumento do BC para manter a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), dentro da meta estabelecida pela equipe econômica. De acordo com o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação corresponde a 4,5% (centro da meta), com margem de tolerância de 2 pontos percentuais, podendo variar entre 2,5% (piso da meta) e 6,5% (teto da meta).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA acumulado em 12 meses estava em 6,28% até abril, mais que os 6,15% acumulados até março e cada vez mais próximo do teto da meta. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, o IPCA encerrará 2014 em 6,47%. A estimativa foi elevada pela segunda semana seguida.

Por outro lado, o aumento da taxa Selic prejudica o reaquecimento da economia, que cresceu 2,3% no ano passado e ainda está sob o efeito de estímulos do governo, como desonerações e crédito subsidiado. De acordo com o Focus, os analistas econômicos projetam crescimento de 1,63% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014.

A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la, o Banco Central contém o excesso de demanda, que se reflete no aumento de preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas alivia o controle sobre a inflação.

JUROS ALTOS CONTRA A INFLAÇÃO É MODELO ESGOTADO


JORNAL DO COMERCIO 28/05/2014


EDITORIAL 



O Banco Central tem por tarefa básica monitorar a inflação, o câmbio e as contas do governo central, em busca do superávit primário com o qual o governo paga os juros da astronômica dívida pública, de R$ 2,052 trilhões, valor de abril de 2014. São, por ano, nada menos do que R$ 200 bilhões. Essa quantia serviria para alavancar programas sociais e abrir frentes de investimentos na infraestrutura. O problema é que a elevação dos juros, que estão em 11% ao ano, através do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), não tem surtido efeito, o de segurar os preços. Pelo menos no quesito alimentos, quem vai ao supermercado nota, claramente, a alta. Até mesmo frutas subiram bastante, e a frase antiga e folclórica de que algo está sendo vendido “a preço de banana” não vale mais. É que a banana também está cara, como a laranja e o mamão, além da maçã, historicamente uma fruta cara e até elitizada, alimento de crianças e doentes, em décadas passadas.

A projeção da inflação, segundo a pesquisa semanal Focus, do Banco Central, apontou que 2014 está batendo no teto da meta, que é de 6,5%. O centro da meta é de 4,5%, com variação de dois pontos para mais ou menos. A inflação é o pavor dos que têm mais de 50 anos e vivenciaram a pulverização de salários e poupanças nos anos de 1980. No entanto, como todo medicamento, o aumento dos juros tem efeitos correlatos que podem ser prejudiciais à saúde financeira e econômica do Brasil. Desde 2013 que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vem aumentando a Selic, hoje nos citados 11% ao ano. Por isso, a expectativa dos economistas e instituições ouvidos pela pesquisa Focus aponta para a manutenção dos juros no mesmo patamar. Ora, juros altos inibem o consumo e, em consequência, seguram os preços. O efeito correlato é que nem todo dinheiro tomado visa ao consumo, mas também ao investimento empresarial e à infraestrutura. A indústria brasileira precisa investir para se modernizar e competir. Com dinheiro caro, há o natural retraimento do setor, e quem perde são Porto Alegre, o Rio Grande do Sul e o Brasil. Então, no ciclo de alta da Selic, o modelo está esgotado e não surte mais efeito. O governo tem que gastar menos e melhor.

Por isso, o Copom deverá confirmar a previsão da pesquisa Focus/Banco Central e manter os juros em 11%. Alguns analistas financeiros, com um viés maroto, lembram que 2014 é um ano eleitoral e que aumentar os juros seria medida muito antipática. Assim, os 11% serão mantidos até dezembro. As entidades empresariais sempre condenaram, ao lado dos sindicatos de empregados, a elevação dos juros. Federações das indústrias, como a Fiergs e Fiesp, lembram que aumento da taxa de juros prejudica a retomada da atividade econômica, que está muito lenta, quase parando, neste 2014. De acordo com o Tesouro Nacional, a parcela de títulos atrelados à taxa Selic, que é flutuante, subiu de 18,59% em março para 19,43% em abril. Com base nesse dado, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) calcula que cada subida de 0,5 ponto percentual na Selic equivale a um acréscimo aproximado de R$ 4 bilhões/ano na dívida pública, transferidos em grande parte para os bancos, que são os maiores credores do Estado.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

ARRECADAÇÃO BATE RECORDE PARA MESES DE ABRIL


Do G1, em Brasília 26/05/2014 10h20

Arrecadação soma R$ 105,8 bilhões e bate recorde para meses de abril. Sobre abril de 2013, aumento real foi de 0,93%, informa Receita Federal. Na parcial do ano, arrecadação soma R$ 399 bi e também bate recorde.

Alexandro Martello



A arrecadação de impostos, contribuições federais e demais receitas, como os royalties, somou R$ 105,8 bilhões em abril deste ano, o que representa novo recorde histórico para este mês, informou nesta segunda-feira (26) a Secretaria da Receita Federal. A série histórica começou em 1985 para todos os meses. Em valores corrigidos pela inflação (IPCA), teve início em 2003.

Em comparação com abril do ano passado, ainda de acordo com dados oficiais, a arrecadação registrou aumento real de 0,93%. Até o momento, o maior valor já arrecadado em meses de abril havia sido em 2013: R$ 104,9 bilhões (valor já corrigido pela inflação).

Acumulado do ano

Nos quatro primeiros meses deste ano, de acordo com o Fisco, a arrecadação federal também bateu recorde histórico ao totalizar R$ 399,3 bilhões. Na comparação com o mesmo período de 2013, o crescimento real foi de 1,78%, informou o Fisco.

Em termos nominais – ou seja, sem a correção pela inflação dos valores arrecadados no mesmo período de 2013 –, a arrecadação cresceu R$ 28,86 bilhões nos quatro primeiros meses deste ano. Assim, o crescimento foi contabilizado com base no que efetivamente ingressou aos cofres da União.

Desonerações

De acordo com a Receita Federal, a arrecadação cresceu em 2014, atingindo um novo recorde para os quatro primeiros meses de um ano, mesmo com as desonerações de tributos anunciadas pelo governo nos últimos anos (folha de pagamentos, IPI de automóveis e cesta básica, entre outros), que tiveram o impacto de R$ 34,97 bilhões nesse período. Já nos quatro primeiros meses de 2013, o impacto das desonerações foi menor: R$ 22,33 bilhões.

Fatores que impactaram a arrecadação

Segundo a Receita, alguns fatores explicam o crescimento da arrecadação no primeiro bimestre de 2014. Entre eles estão o crescimento da economia brasileira. Os dados mostram que, mesmo a produção industrial tendo ficado praticamente estável (+0,24%) no período, as vendas de bens e serviços avançaram 2,32%, enquanto a massa salarial cresceu 10,12% e o valor em dólar das importações subiu 2,38%.

O governo também arrecadou mais, neste ano, no Imposto Sobre Produtos Industriais do fumo. De acordo com a Receita Federal, houve "aumento expressivo" do volume de saída de cigarros, para o consumo, dos estabelecimentos produtores em relação ao mesmo período do ano passado.

Outro fator que influenciou para cima os valores que ingressaram nos cofres da União no primeiro trimestre deste ano foi a recomposição gradual do IPI de automóveis em relação ao mesmo período de 2013. Embora a alíquota tenha subido em janeiro deste ano, ainda permanece abaixo do patamar considerado "normal" pelo governo. A arrecadação deste tributo subiu 17,78% nos quatro primeiros meses deste ano.

Também houve alta real de 1,88%, no acumulado de 2014, da arrecadação do Imposto de Renda das Pessas Físicas (IRPF) - por conta do crescimento nos valores arrecadados em ganhos de capital de alienação de bens (+20,33%) frente ao mesmo período do ano passado. O IR sobre rendimentos de capital, por sua vez, avançou 11,9%, em termos reais, no acumulado deste ano por conta da arrecadação incidente sobre fundos de renda fixa e juros sobre capital próprio.

Por outro lado, o governo também enumerou alguns fatores que puxaram para baixo a arrecadação federal neste ano. O Fisco citou, por exemplo, o recuo de 10% na arrecadação do IPI incidente sobre bebidas, resultado de queda na produção e de compensações efetuadas pelas empresas. Também caiu a arrecadação do IRPJ e da CSLL das empresas por conta, principalmente, na estimativa mensal de instituições financeiras em janeiro e fevereiro.

A Receita Federal também informou que houve queda de 8,8% na arrecadação do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) no primeiro quadrimestre de 2014 porque o governo zerou, em junho do ano passado, a tributação para ingresso de moeda estrangeira no país. A queda aconteceu apesar do aumento da tributação para pessoas físicas no fim de 2013.


domingo, 25 de maio de 2014

ESTÁ TÃO RUIM? ENTÃO, VENDE O NEGÓCIO E MUDA DE PAÍS!

por Cadu Caldas, ZERO HORA 24/05/2014 | 13h04

Com a palavra. "Está tão ruim? Então, vende o negócio e muda de país!", diz Luiza Trajano

Empresária mantém o viés otimista pelo Brasil, conta como a empresa precisou se reorganizar depois de quase dobrar de tamanho e diz ser garota-propaganda daquilo que dá certo



A gente vive do consumidor, então é preciso ser muito transparente, diz Luiza TrajanoFoto: Regis Filho / Valor Econômico/Agência O Globo


Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues, presidente do conselho de administração da rede de lojas Magazine Luiza, é diferente da maioria dos empresários brasileiros. Não só pelo fato de ser mulher — é uma das poucas na posição —, mas pelo viés otimista que enxerga o Brasil. Enquanto boa parte da iniciativa privada adota tom mais ácido ao falar das ações do atual governo, essa paulista de Franca afirma que prefere ver o copo "meio cheio" em vez de "meio vazio"e diz não temer ser vista como garota-propaganda do Planalto.

De tão identificada com a rede que comanda, Luiza é associada à marca. Na realidade, o nome vem da tia, Luiza Trajano Donato, que comprou uma pequena loja de presentes em 1957, A Cristaleira, com o marido Pelegrino José Donato.

Depois de quase dobrar de tamanho entre 2007 e 2010, a empresa sentiu as dores do crescimento. Em 2012, amargou prejuízo de R$ 6,7 milhões, resultado que empurrou o preço das ações para baixo e obrigou a empresa a diminuir o ritmo de expansão. Novas aquisições estão fora dos planos este ano, diz Luiza.

A meta em 2014 é crescer de forma sustentada. Para isso, conta com o bom desempenho das vendas no Rio Grande do Sul, que costuma visitar com bastante frequência. O hino rio-grandense ela já sabe de cor. Falta só aprender a tomar chimarrão.

Enquanto outras redes destacam a qualidade do produto ou o preço mais barato, o slogan da Magazine Luiza faz um convite: vem ser feliz!. Luiza Trajano é uma mulher feliz?
Eu sou muito feliz (risos). Felicidade é muito você aceitar as coisas da maneira como vêm. Há quatro anos, perdi meu marido subitamente e foi muito triste. Mas acredito que as coisas sempre vêm para que as pessoas possam desenvolver, melhorar. Lógico, sofremos, temos problemas. Mas felicidade é muito simples. É preciso querer ser feliz. Agradecer o que acontece de bom. Detesto a frase "era feliz e não sabia". Quando meu marido morreu, a única coisa que me consolava era isso. Eu era feliz e tinha sabido aproveitar isso.

O que a faz rir à toa?
Meus netos e boas vendas. Fico muito alegre vendo as pessoas crescendo e conseguindo vencer os obstáculos. Pessoas com garra e determinação, que não reclamam muito das coisas. Gente que faz acontecer, de princípios, que luta por uma causa.

Uma de suas marcas é o otimismo sobre o Brasil. É avaliação de cenário ou é nato?
Não é que eu seja otimista e ache que tudo está certo. Apenas costumo ressaltar também as coisas positivas. Vivemos uma onda de pessimismo. O Brasil incluiu 5 milhões de pessoas no mercado de trabalho e parece que não foi nada. Uma década atrás, quando tínhamos uma loja com 50 vagas ficavam 2 mil pessoas na fila por um emprego.

E agora, mudou?
Agora abrimos uma outra filial na mesma cidade no interior de São Paulo, Rio Preto, tinha só 100 pessoas. E metade já tinha emprego. Sou daquelas que gosta de ver o copo do lado cheio. O lado vazio tem muita gente para mostrar. O Brasil precisa de líderes que também saibam ver o lado positivo.

Há motivos para as queixas dos empresários?
Eu costumo dizer para os colegas empresários que pensam muito negativo: "Está tão ruim? Então, vende o negócio e muda de país". Trabalha aqui, ganha dinheiro aqui e acha que está tudo ruim? O Brasil é nosso. Não adianta eu reclamar de mim mesma. À medida que eu estou reclamando do país eu estou reclamando de mim. O que eu posso fazer para ajudar? Não é um otimismo sem participação. É se sentir responsável por construir um país melhor. Quem se sente responsável não aponta dedo.

Há um certo ranço do mercado em relação ao governo?
A campanha eleitoral começou muito cedo este ano e isso traz muita coisa à tona. Temos muitos problemas para vencer. A infraestrutura está sendo enfrentada. Mesmo assim, temos conquistas. O país passou por uma crise global (2008) quase ileso. Afetou todo mundo e nós não sentimos. Dia desses recebi um empresário espanhol que me contou que os jovens na Espanha não têm emprego. E nossos jovens têm. Há coisas para melhorar, mas só nós conseguiremos isso. A renda triplicou em 10 anos.

A senhora fez sucesso nas redes sociais quando corrigiu Diogo Mainardi, no programa Manhattan Connection, sobre inadimplência no varejo. Mandou mesmo o e-mail a ele?
Nunca mandei um e-mail ou carta de retorno para ele. Tudo que andam dizendo na internet é mentira. A única coisa que fiz foi agradecer as milhares de mensagens de apoio que recebi. Tenho um respeito muito grande por toda a equipe do Manhattan. O que aconteceu é que eu sou uma pessoa preocupada com a inadimplência. Toda segunda-feira, recebo dados atualizados, tanto da minha empresa quanto dados gerais. Inadimplência é igual a cupim, corrói o negócio por dentro. Nem sou tão ligada em números, mas esse tema é algo que acompanho muito de perto. Mesmo tendo certeza do contrário, quando o Diogo Mainardi disse que a inadimplência havia aumentado eu não retruquei. Apenas disse que ia encaminhar o e-mail. Mas nunca enviei. O que tem é muita gente aí escrevendo mensagens falsas no meu nome.

Por que a resposta da senhora fez sucesso entre os jovens?
Eu me assusto com o pessimismo dos jovens. Eles vivem uma fase sem esperança, e de repente alguém mostra o copo cheio, o que o país tem de bom. E também porque o número que eu dei estava certo. E na semana seguinte foram divulgados dados mostrando que o país estava com os índices mais baixos de inadimplência.

O estilo da resposta contribuiu para a repercussão?
A forma como conduzi, firme, sem ser agressiva, também ajudou. Não sou analista de comunicação, mas acho que foi isso. Era uma coisa que tinha de ser. Não me preparei. Tinha chegado aquele dia mesmo dos Estados Unidos. Nunca mais vou ser tão inocente (pausa). Apesar de que, no programa do João Dória, fui do mesmo jeito (risos).

A inadimplência preocupa? Os índices voltaram a subir no início deste ano...
Continua em queda. A prova disso é que os bancos têm aprovado mais crédito. Teve um pouquinho de alta sim, o que é comum para o período.

Ainda há espaço para expandir o consumo no Brasil?
Falar em opção por consumo ou por infraestrutura é um erro. Infraestrutura é necessária, mas para garantir não é preciso abrir mão do consumo. Sem consumo não tem emprego. No Brasil só 54% da população tem máquina de lavar, só 10% tem televisão de tela plana e só 1% tem ar-condicionado. E ainda precisamos construir 23 milhões de casas para ter um nível satisfatório de igualdade social para um país em desenvolvimento. Nenhuma indústria vive sem consumo. Nos Estados Unidos, as pessoas já estão na oitava geração de TVs de tela plana. A gente ainda precisa de uns 20 anos de progresso.


Sem medo de ser feliz Luiza não teme ser vista como garota-propaganda do governo porque aposta no que dá certo
Foto: Divulgação, BD/7/7/2011

A senhora foi chamada de garota-propaganda do governo. O rótulo incomoda?
Não. Sou garota-propaganda daquilo que dá certo. Qualquer coisa que for. Não tenho partido político. Faço propaganda do Brasil que dá certo. O que não funciona, muita gente mostra e eu não preciso falar. Visito várias comunidades carentes, tenho ligação direta com o povo. Estive com 400 mulheres metalúrgicas há pouco tempo, vejo um Brasil que se esforça para dar certo. E sinto que a maioria gosta disso. Claro que tem gente que mete o pau, critica, diz que sou do governo. Mas a gente nunca consegue agradar a todos. Mas tenho uma missão, que é ajudar a construir o Brasil para meus netos e as gerações futuras.

Tem candidato à Presidência?
Não gostaria de falar sobre isso.

O aumento na taxa de juro para segurar a inflação não é um banho de água fria para o varejo?
Aumentar juro não é bom para quem compra em prestação. Mas nada pior que inflação. O que não pode é deixar a inflação disparar. A presidente tentou baixar a taxa de juro no Brasil. Focou muito nisso nos dois primeiros anos de governo e teve de subir de novo. Juro alto não é bom, mas a inflação corrompe.


Em recuperação Rede começou a vender ações na bolsa em 2011 e enfrentou queda, mas Luiza garante que melhorou
Foto: Pedro Vilas Bôas, Divulgação, BD, 2/5/2011

De 2007 a 2010, a rede cresceu bastante, praticamente dobrou de tamanho. Foi um passo necessário para não ser engolido por outras gigantes do varejo?
Volume no varejo é importante. Não quer dizer que as pequenas e médias empresas não sobrevivam. São elas, afinal, que geram a maioria dos empregos no país. Mas chega a um ponto em que ou você vende ou você cresce. A Magazine Luiza já comprou 13 redes, inclusive a Arno no Rio Grande do Sul. Outras três em Santa Catarina, duas no nordeste e outras no interior paulista. Era necessário, mas foi difícil. Tínhamos 250 lojas com menos de dois anos. As questões contábeis sacrificam muito os dois primeiros anos. Fazer uma integração dar lucro demora. Hoje estamos totalmente integrados. Agora vamos dar uma respirada e crescer organicamente.

Como foi a adaptação ao mercado gaúcho?
A gente teve muito cuidado para mudar a marca. Tanto que hoje nosso desempenho no Rio Grande do Sul é muito bom. Levamos dois anos para mudar a marca, convidamos a Hebe Camargo como garota-propaganda. Hoje vários dos nossos gerentes eram vendedores na época da Arno.


Cores e letras do Sul Compra de rede gaúcha, em 2004, fez a empresária aprender a cantar o hino-rio-grandense
Foto: Nereu de Almeida, BD, 16/6/2004

O que foi essencial para a boa transição?
Tem um prêmio por produtividade que distribuímos todos os anos entre os funcionárias da rede. E sempre vai para os gaúchos. As gaúchas são muito determinadas. Só não tomo chimarrão. Até cantar o hino eu já sei. Toda segunda-feira, cantamos o Hino Hacional e da empresa em todas as unidades. O Rio Grande do Sul é o único Estado que canta o hino estadual também.

A rede sofre muito assédio de empresas estrangeiras?
Não. Mas respeito. Tanto os concorrentes nacionais quanto os estrangeiros. Concorrente é para ser respeitado, não importa o tamanho.

Em 2011, a Magazine Luiza entrou na bolsa de valores. O valor da ação começou bem, caiu pela metade e agora se recupera devagar. O valor da ação tira o sono da senhora?
Eu sempre tratei o minoritário de igual para igual. Bem antes de abrir o capital. Quando entramos na bolsa, já estávamos acostumados a prestar contas. Claro que oscilações ocorrem, e ninguém gosta. Em relação a transparência, feedback, não mudou nada.

Nos últimos anos, a bolsa brasileira não teve exatamente um bom desempenho. Houve muita cobrança?
O preço da ação preocupa. Não para minha família, mas para investidores, especuladores, sim. Agora, quem investiu no longo prazo está mais confiante. O último trimestre do ano passado foi bom. E sobre este último eu ainda não posso falar. Mas temos clareza de onde queremos chegar.

Apesar da evolução nas discussões de gênero, ainda são poucas as mulheres que ocupam cargos de presidente em grandes empresas. A senhora já enfrentou algum tipo de preconceito?
Nunca. Eu me sinto capaz de vencer o preconceito. Não me sinto vítima. Antes de alguém vir com preconceito eu já me posiciono. Não é fácil. Mas as mulheres já tiveram muitas conquistas. O fato de termos uma presidente mulher ajudou bastante. Os pais começaram a ver que as filhas também podem almejar coisas grandes.

A senhora tem alguma atuação nessa questão de igualdade de gêneros?
Faço parte de um movimento de mulheres do Brasil para apoiar a causa. Lutamos para ter cotas de participação das mulheres em conselhos. Faz muitos anos que estacionamos nos 7% de participação feminina. Essa diversidade ajuda. Cota é um processo transitório para resolver as desigualdades. As mulheres já ocupam cargos de chefia média nas empresas, mas para chegar ao topo demora muito mais se não tiver uma certa ajuda. Não somos contra os homens, mas a favor das mulheres.

Como é a Luiza Trajano gestora? Muito durona?
É uma questão um pouco complicada. Qualquer coisa que uma mulher fale de forma mais firme já provoca comentários, costuma se atribuir ao fato de que seria muito durona. Se é um homem está no comando e age da mesma forma, é considerado normal. Sou muito agregadora, muito descentralizadora, mas bastante firme. Peço todos os dias que Deus me dê três coisas: sabedoria, autoridade e justiça. Um líder precisa de autoridade. Agora, se as pessoas me acham mandona, não saberia dizer.

Quem são as pessoas que inspiram a senhora?
Primeiro foi minha tia, que também se chama Luiza. Meu nome foi uma homenagem a ela, que não tem filhos. Ela sempre foi superfocada no consumidor. Essa coisa de não ter medo do futuro, de ter vontade de trabalhar, foi tudo com ela. Mas estou sempre aprendendo. Com um, com outro.

O que a senhora procura em um funcionário?
Hoje em dia, nem sou eu que contrato, isso fica a cargo do Marcelo Silva, nosso CEO (presidente-executivo da rede). Mas percebo que tem sido difícil selecionar. É preciso ter valores e espírito empreendedor. O salário é feito por eles, com remuneração por desempenho. Um perfil de alguém que entende de pessoas, da vida, mas que também tenha garra de empreendedor e queira ganhar dinheiro não é fácil de encontrar.

A essa altura, o varejo pode ignorar as redes sociais?
A empresa valoriza muito. Estou no Instagram, no Twitter. Se o cliente reclama, imediatamente a gente fica sabendo e tenta resolver. A gente vive do consumidor, então é preciso ser muito transparente.

Como se diferenciar sem perder a identidade?
O mais importante é não perder o DNA, a cultura dos fundadores. Essa é uma luta diária, com 740 lojas no Brasil.

Existem projetos de novas aquisições para este ano?
Vamos ter expansão de 30 lojas. Neste ano, não está nos planos comprar novas redes porque precisamos consolidar o lucro. Crescemos bem ano passado e vamos crescer bem este ano. Quando se compra uma rede demora a acertar. Os dois primeiros anos são difíceis do ponto de vista financeiro.

sábado, 24 de maio de 2014

CONTAS NO VERMELHO


ZERO HORA 24 de maio de 2014 | N° 17806

ECONOMIA 

Gasto recorde de brasileiro no Exterior contribui para rombo. COTAÇÃO DO DÓLAR mais baixa pode ter contribuído para elevar as despesas com viagens. Saldo negativo entre compras e vendas do Brasil com o mundo em abril foi de US$ 8,3 bilhões



O dólar mais barato pode ter influenciado o aumento nos gastos de brasileiros no Exterior. O saldo negativo das compras e vendas de mercadorias e serviços entre o Brasil e o mundo aumentou e bateu recorde para os meses de abril, chegando a US$ 8,3 bilhões, informou ontem o Banco Central (BC).

As despesas com viagens no Exterior representaram US$ 2,34 bilhões, o maior valor desde o começo da série histórica iniciada em 1947. O resultado foi atribuído principalmente ao comportamento do câmbio. Outro fator foi o aumento na remessa de lucros e dividendos. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, os gastos em viagens estão fora do padrão observado no primeiro trimestre, período em que essas despesas estavam desacelerando. Conforme Maciel, ainda não é possível avaliar se o resultado é algo pontual ou o início de uma tendência.

– Tivemos uma valorização em março e abril que pode estar repercutindo nisso – disse Maciel.

As receitas deixadas por estrangeiros em viagem no Brasil chegaram a US$ 547 milhões. De janeiro a abril, as despesas no Exterior também foram recorde ao somar US$ 8,218 bilhões, enquanto em igual período do ano passado alcançaram US$ 8,080 bilhões.

No acumulado do ano, o déficit entre compras e vendas do Brasil com o mundo chega a US$ 33,5 bilhões. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), porém, a dívida segue estável em torno de 3,6% desde agosto – e a tendência é de que se mantenha até o fim do ano. Para maio, é esperado déficit de US$ 6 bilhões.

– Há reação na balança comercial, e dados parciais mostram evolução mais moderada de despesas como viagens – disse Maciel.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

IMPOSTOS CONTRA O PAÍS


O Estado de S.Paulo 21 de maio de 2014 | 2h 13


OPINIÃO




Com um dos mais pesados, complicados e irracionais sistemas de tributação do mundo, as empresas brasileiras gastam em média 2.600 horas, a cada ano, só para se manter em dia com os impostos e contribuições, segundo levantamento do Banco Mundial. Todo esse trabalho é apenas para manter informações atualizadas, atender à burocracia do Fisco e processar as operações necessárias. São necessárias 291 horas no Chile, 338 na China, 207 na Alemanha, 243 na Índia e 175 nos Estados Unidos. Não há muita surpresa, portanto, quando a tributação é classificada como o maior problema das empresas e uma enorme desvantagem para competir no mercado internacional. Essa avaliação - o maior problema - foi apresentada na terça-feira pelo gerente executivo de Políticas Econômicas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. Ele participou de mais um debate do Fórum Estadão Brasil Competitivo, promovido em colaboração com a CNI.

A análise do economista Flávio Castelo Branco é especialmente significativa, por se tratar de um técnico da mais importante associação industrial do País. Empresários do setor frequentemente dão mais importância a outros fatores quando o assunto é a competitividade. Reclamam do câmbio, cobram maior desvalorização do real e pedem ao governo mais barreiras contra os concorrentes estrangeiros. Mas a taxa de câmbio oscila, o câmbio real depende também da inflação e barreiras comerciais, destinadas apenas a fechar o mercado interno, em nada contribuem para tornar a empresa nacional mais competitiva no exterior.

Capacidade para competir nos mercados globais depende principalmente de fatores estruturais, como a produtividade, a inovação, a eficiência da logística, a oferta de mão de obra qualificada e, de modo especial, a tributação. "A complexidade do sistema tributário brasileiro traz custos elevados de recolhimento de impostos e incerteza quanto a regras, gerando contenciosos e dificuldade de harmonização com outros sistemas." Esta dificuldade, ressaltou o economista, pode resultar em bitributação. A reforma tributária, segundo ele, deveria equacionar competências federativas e proporcionar a desoneração dos investimentos, da folha de salários e das exportações.

Não se trata apenas do peso dos impostos e contribuições, mas também de sua qualidade. Os tributos incidem de forma irracional, dificultando os ganhos de produtividade (ao encarecer as máquinas, por exemplo) e impondo uma barreira à saída dos produtos nacionais. O governo protesta contra a imposição de obstáculos ao ingresso de mercadorias brasileiras em outros países, mas também joga contra a exportação nacional ao cobrar pedágio na saída.

A irracionalidade se manifesta igualmente na guerra fiscal entre Estados, fator de distorção no uso de recursos, como lembrou o diretor de Políticas Públicas e Tributação da LCA Consultores, Bernard Appy.

A disfunção é visível também na concessão de benefícios, isto é, na redução de impostos a favor de alguns segmentos e no protecionismo. A indústria automobilística brasileira tem 60 anos, mas é tratada como infante, observou o economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e atual vice-presidente do Insper. Além disso, os benefícios setoriais se prolongam sem avaliação de resultados, acrescentou.

Outros países têm tributação tão pesada quanto a do Brasil e até mais pesada, mas com menos distorções e com melhores serviços à população. No caso do Brasil, a contrapartida dos enormes impostos e contribuições é a prestação de serviços ineficientes e de baixa qualidade. A uma tributação de Primeiro Mundo corresponde um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) miserável: 85.º lugar numa lista de 187 países, observou Lisboa.

Seria preciso, concordaram os debatedores, complementar a reforma com melhor uso do dinheiro arrecadado e maior parcimônia na despesa. São condições para um aumento geral da eficiência, para uma distribuição mais justa de encargos e de benefícios e até para uma eventual diminuição da carga.

domingo, 18 de maio de 2014

CINTURÃO DE TRIBUTOS APRISIONA CIDADÃOS NO BRASIL


CORREIO DO POVO 18/05/2014 08:21

Heron Vidal / Correio do Povo

Carga de impostos no País consome 150 dias de trabalho


Um cinturão formado por 90 tributos aperta e drena todos os dias, sejam eles úteis ou feriados, o suado dinheiro dos cidadãos. Empresas estão também nesse cerco. As grandes recorrem aos serviços de consultoria em busca de proteção. As pequenas têm a opção de cortar a carga por meio de enquadramentos, como o do Simples. Numa outra fronteira, insondável, o contrabando e a sonegação crescem. Entretanto, os dois lados bombardeados, pessoas físicas e jurídicas, não são contra pagar impostos, ambas questionam, porém, o peso dessa obrigação.

A relação detalhada dos 90 tributos, atualizada dia cinco passado pelo Portal Tributário, pode ser conferida na parte inferior da página na Internet, no link "Tributos". No topo da montanha de contribuições pagas aos estados, municípios e União, uma característica se destaca, diz o advogado tributarista Lucas Cassiano: o Brasil tributa mais o consumo e os salários e menos o capital e o patrimônio. Independentemente de como incide - sobre a renda, salários ou consumo -, a carga tributária precisa, na visão de Cassiano, ser baixa e justa. Pessoas de baixa renda não deveriam pagar impostos. Mas da forma como está estruturado o edifício tributário brasileiro, tanto quem ganha salário mínimo quanto quem recebe 100 mínimos por mês, paga o mesmo na compra, por exemplo, de arroz, feijão, carne, leite, enfim qualquer item da cesta básica.

Se o produto tiver maior valor, como TV, máquina de lavar, mobiliário ou veículo, o cidadão de menor renda paga ainda mais, em juros e Imposto sobre Operação Financeira (IOF), por ser "obrigado" a parcelar a compra. A justiça tributária não é difícil, basta ter vontade. No consumo, propõe ele, o governo pode criar alíquota única, por exemplo, de 10% sobre as compras e fixar isenção a todos até R$ 2 mil/mês. Quem ficar nessa faixa recebe reembolso. Quem gastar acima, paga 10%. Ao mesmo tempo, o governo reduziria o imposto sobre o salário e patrimônio, mas elevaria a carga no acréscimo da riqueza, ou enriquecimento. Tributaria forte a renda gerada pelo patrimônio.

Cinco meses de trabalho gastos na conta "salgada"

Às 19h de sexta-feira, o inquieto placar do Impostômetro exibia valor financeiro extraordinário: R$ 645,218 bilhões. Essa foi a conta em tributos paga pelos brasileiros até aquela hora, desde o primeiro dia de 2014. No ano passado, cada trabalhador empregado com renda mensal de R$ 3 mil gastou 150 dias - cinco meses -, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), só para pagar a mais salgada conta da cidadania: os impostos. Acima dessa faixa, até R$ 10 mil/mês, o trabalhador dedicou, sem perceber, 160 preciosos dias. Na Suécia foram necessários 185 dias, na França, 149, na Espanha, 137, nos EUA, 102, na Argentina, 97, no Chile, 92 e, no México, 91 dias, aponta pesquisa comparativa do IBPT.

Criado pelo Instituto, o estudo "Dias trabalhados para pagar tributos" leva em conta a tributação incidente sobre rendimentos (Imposto de Renda Pessoa Física, contribuições previdenciárias e sindicais), a tributação sobre o consumo de produtos e serviços (PIS, Cofins, ICMS, IPI, ISS), e a tributação sobre o patrimônio (IPTU e IPVA). Foram ainda consideradas as taxas de limpeza pública, coleta de lixo, emissão de documentos e contribuições, como no caso da iluminação pública.

Em 2013, o contribuinte destinou 41,08% do seu salário bruto em tributos sobre os rendimentos, consumo, patrimônio e outros, observa o presidente-executivo do IBPT, João Eloi Olenike. Em 1986, essa conta era muito menor. Naquele ano, o brasileiro trabalhou dois meses e 22 dias, revelou o Instituto. Hoje se trabalha o dobro daquela época para a quitação da conta dos impostos.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Enquanto isto, os "representantes do povo" nos parlamentos não estão nem aí, como se não fossem com eles. Só vão se preocupar nas próximas campanhas, prometendo reduzir impostos e as mesmas promessas que o elegeram.




quarta-feira, 14 de maio de 2014

CARGA TRIBUTARIA É FLANCO VULNERÁVEL DO BRASIL



Carga tributária é flanco vulnerável do país. Há razões para a mudança de percepção do país por parte do mundo, como o excesso de intervenções do governo e o fiasco do “novo marco” econômico


EDITORIAL
O GLOBO:14/05/14 - 0h00


Ficou no passado distante o Brasil do esteriótipo da terra do café, Pelé e baianas de balangandãs. Era o tempo em que bandidos de Hollywood escapavam para uma terra distante: o “Brazil”, de preferência o Rio de Janeiro. Depois, veio o “milagre econômico” da ditadura militar, em parte inflado à custa do endividamento externo, política que terminou num dos calotes externos do país. Na redemocratização, o Plano Real elevou de patamar o conceito do Brasil no mundo, crédito a Itamar, FH e equipe de economistas. Veio Lula, com a ampliação da política social tucana, e o ex-metalúrgico foi chamado de “o cara” por Barack Obama, a consagração.

Na imprensa internacional, o ápice da boa imagem brasileira ficou estampada, em 2009, numa capa de “The Economist” em que a subida do Cristo Redentor convertido em foguete anunciava ao planeta a “decolagem” do Brasil. Quatro anos depois, em 2013, a conjuntura já era outra, e a criativa revista inglesa usou o mesmo foguete, mas caindo em parafuso. A rigor, dois exageros: nem o Brasil decolara para o patamar de economia desenvolvida, tampouco caía, ou cai, nas profundezas de uma crise irreversível. Pelo menos por enquanto. Estabeleceu-se uma aparente ciclotimia na visão da imprensa estrangeira sobre o Brasil, cada vez mais em foco devido à Copa. Antes, o queridinho dos mercados; agora, fonte de mau humor.

Mas há razões objetivas para a mudança de percepção do país por parte do mundo. No plano mais geral, o intervencionismo do governo Dilma e o fracasso do tal “novo marco" econômico — juros baixos, câmbio desvalorizado e gastos públicos em alta — esfriaram o ânimo com o país. Inflação persistentemente alta (6%) e baixo crescimento, inferior a 2%, não são mesmo nada estimulantes. E a tomar as projeções de analistas para 2015, inexiste otimismo à frente.

A nova onda de críticas no exterior acerta no alvo ao tratar da carestia por um ângulo muito vulnerável do país: a contribuição da elevada carga tributária (37% do PIB) para a perda de competitividade de produtos nacionais (automóveis, eletrodomésticos, vestuário, etc). Tanto que mesmo com o câmbio relativamente desvalorizado, fazer compras, principalmente nos Estados Unidos, continua compensador. Até jornais chamados de esquerda, os franceses “Le Monde” e “Libération”, se espantam com os preços no Brasil. O “Monde” cita a excentricidade dos impostos. A economista Mônica de Bolle explica a crítica pelo fato de impostos de Primeiro Mundo não garantirem serviços públicos também de nações desenvolvidas. Como Educação.

Crítica na mosca. O desencanto com o Brasil refletido pela imprensa do Hemisfério Norte não pode ser desqualificado como se tudo derivasse de um grupo de “rentistas” desgostosos pela redução dos ganhos financeiros no país. Primeiro, porque os juros voltaram a subir. Depois, vários dos reparos feitos, caso deste, da carga tributária, são irrespondíveis.

terça-feira, 13 de maio de 2014

PETROBRAS AVALIA REAJUSTE DA GASOLINA PARA ESTE ANO



ZERO HORA 13 de maio de 2014 | N° 17795



COMBUSTÍVEIS. PRESIDENTE DA ESTATAL afirmou que a alta será moderada e deve ocorrer até dezembro, mas evitou definir data e percentual exatos



O preço da gasolina deve subir ainda este ano, avisou ontem a presidente da Petrobras, Graça Foster. A executiva ponderou que será um ajuste “moderado”, sem repassar variações abruptas. Graça não fixou data nem percentual, mas disse que a estatal “avalia” o aumento até dezembro.

O reajuste mais recente ocorreu no fim de novembro de 2013: 4% para a gasolina e 8% para o diesel. Segundo a dirigente, a estatal pretende voltar a ter fluxo de caixa positivo em 2015. Para tal, afirmou, é necessário aumentar a produção, ajustar os preços aos do mercado externo e continuar com o programa de venda de ativos.

A executiva acrescentou que vai continuar a busca para reajustar os preços dos combustíveis produzidos pela empresa. Apesar de ressaltar que é preciso atenção ao mercado interno, a presidente destacou que os preços dos derivados (gasolina e diesel) precisam estar alinhados ao mercado externo para a empresa conseguir manter a capacidade de investimento.

– O fato de o real ter reduzido a depreciação frente ao dólar diminuiu a pressão. Estaremos sempre defendendo o aumento (dos preços). Hoje, a orientação é não repassar a volatilidade, mas não há paridade e nós precisamos considerar a possibilidade do aumento para entrarmos 2015 em melhores condições do que entramos neste ano – explicou, ao detalhar o resultado do primeiro trimestre do ano da estatal, que ficou 30% abaixo do obtido no mesmo período de 2013.

Graça afirmou que a companhia espera concluir até 6 de junho as investigações internas sobre a refinaria de Pasadena (EUA). A executiva acrescentou que as cinco comissões instaladas para apurar eventuais irregularidades não trouxeram prejuízos à Petrobras:

– Estamos trabalhando para que possamos virar essa página no mais curto espaço de tempo possível.



CUSTOS À DEMISSÃO REDUZIRAM LUCRO

A dirigente disse que a empresa mantém as projeções de investimentos para este ano, em torno de US$ 40 bilhões. A executiva acrescentou que a estatal teria fechado o 1º trimestre deste ano com lucro líquido de cerca de R$ 7 bilhões caso não tivesse sofrido o impacto da reserva de R$ 2,4 bilhões feita para cobrir os custos que a empresa teve com o plano de incentivo à demissão voluntária. O resultado de janeiro a março foi de R$ 5,4 bilhões.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

POUCA DEMANDA REDUZ PREÇOS

ZERO HORA 01/05/2014 | 08h02


Preços das passagens e hotéis para a Copa estão em queda. Sem grande procura por bilhetes para o Mundial, como previsto, companhias baixam tarifas nos voos entre Capital e cidades-sede


por Cadu Caldas e Caio Cigana



Na contramão do que recomendam manuais de viagem, turistas que deixaram tudo para a última hora encontram preços de passagens menores e hospedagem mais em conta em Porto Alegre durante a Copa.

Faltando pouco mais de um mês para o início do Mundial, bilhetes aéreos tiveram queda de até 86%, e o custo de diárias de hotéis recuou 62% (leia na página ao lado).

Uma passagem de Porto Alegre para o Rio de Janeiro, que custava R$ 1.771 em outubro do ano passado, é encontrada hoje por R$ 252. Se o destino for Brasília, a diferença também é grande e chega a 84%. Para São Paulo, um dos trajetos mais procurados pelos gaúchos, o "desconto" vai até 76%.

Levantamento realizado por Zero Hora aponta que é possível encontrar hoje passagens bem mais baratas do que em outubro para qualquer uma das outras 11 cidades-sede do torneio.

A razão para recuo tão expressivo seria a baixa procura de turistas brasileiros e estrangeiros pelo serviço. Depois de ameaças de órgãos de defesa do consumidor diante da alta de preços observada em outubro do ano passado, coube ao mercado punir as companhias aéreas. Das 11,5 milhões de passagens extras oferecidas para o período da Copa, apenas 12% foram vendidas até a semana passada, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Em janeiro, para atender à maior movimentação de passageiros durante o Mundial e pressionar pela redução do preço dos bilhetes, a Anac autorizou 1.973 voos e anunciou que acompanharia o comportamento dos preços, e verificados eventuais abusos. A cobrança levou a Embratur a encaminhar ofício ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pedindo que fosse estabelecido um teto para aumento nos valores. Como resposta, as companhias lançaram campanhas estabelecendo preço limite de R$ 999. A cerca de 40 dias do Mundial, poucos tíquetes chegam perto disso, sinalizando que a demanda segue abaixo do esperado.

Passageiro fica sem reaver a diferença

Passageiros precavidos, que compraram bilhetes com preços mais salgados em outubro, têm pouca chance de reaver o dinheiro. Quem já pagou uma fábula, apesar do inconveniente, não tem garantia de recuperar a diferença. A redução de preços não fere o código do consumidor, explica o coordenador-executivo do Procon estadual, Cristiano Aquino. Ele recomenda como melhor alternativa para quem se sentiu prejudicado um acerto com a companhia aérea.

Danilo Martins, presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Estado (Abav-RS), admite que a procura está baixa e o preço salgado das companhias aéreas em outubro prejudicou até a venda de pacotes internacionais.

Diária de hotel caiu até 66,2% em cinco meses

Depois da disparada das tarifas dos hotéis para o período da Copa, os preços caíram até 66,2% e voltam a se acomodar devido à procura muito inferior à esperada e à devolução de quase metade dos 2 mil quartos reservados pela Fifa na Capital.

Levantamento de Zero Hora em novembro do ano passado mostrou que uma diária durante o período dos jogos na Capital chegava a custar até 257,1% acima do valor do mesmo apartamento um mês antes. A alta dos preços também era percebida na serra gaúcha. Esperava-se que os turistas aproveitassem o intervalo entre uma partida e outra para conhecer a região turística.

O aumento de preços foi defendido na época pelo vice-presidente do Sindicato de Hotéis Restaurantes Bares e Similares (Sindpoa), Daniel Antoniolli, que considerou o custo das tarifas "muito bom" em relação ao cobrado no Exterior em outras edições da Copa do Mundo.

Agora, diante da demanda aquém do imaginado, dos 12 estabelecimentos pesquisados, apenas dois mantêm tarifas semelhantes. Em alguns casos, os preços caíram a menos da metade do que eram anunciados há pouco mais de cinco meses.

— Aquilo foi uma especulação. O pessoal estava animado com uma superprocura. Isso foi um sonho. Mas o sonho acabou. Agora estamos na situação real — admite o presidente do Sindicato dos Hotéis de Porto Alegre (Shpoa), Carlos Henrique Schmidt.

As estimativas da entidade são de que apenas nas datas dos jogos e nas vésperas das cinco partidas na Capital os hotéis estejam praticamente lotados. No período da Copa sem jogos de seleções no Beira-Rio, a lotação cai para 70%. No total, calcula o sindicato, a cidade conta com 20 mil leitos em 10 mil apartamentos espalhados por uma centena de hotéis.

Fifa não explicou cancelamentos

Schmidt lembra que, seis anos atrás, a agência oficial da Fifa bloqueou cerca de 2 mil apartamentos na Capital, mas no final de 2013 começou a abrir mão dos quartos. A primeira devolução de reservas ocorreu em janeiro e uma segunda, em março. Com mais vagas disponíveis, os preços foram pressionados para baixo.

— Eles (a agência da Fifa) não deram nenhuma justificativa. Apenas tiveram uma frustração de vendas e devolveram — diz Schmidt.

Com o mercado reacomodado, os turistas que quiserem visitar a Capital durante a Copa vão encontrar tarifas justas, garante o sindicato dos hotéis.




COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - NA Europa vigora uma cultura econômica de reduzir a demanda para abater preços e com isto, comerciantes, prestadores de serviços e governo se obrigam a manter preços e tarifas mais justas. Esta cultura bem que podia criar uma onda no Brasil. Veja o que ocorreu quando a ganância quis implementar a "Lei de Gerson" durante a Copa.